segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Monstruosidades do Amor e do Desejo

Há questões às quais é impossível responder: porque casou a Zulmira com o Cristóvão, porque casou o Cristóvão com a Menina Zulmira?
Nem eles próprios, nos nove anos que durou o seu casamento, foram capazes de responder. Sei que o Cristóvão chegou a dizer que só se casou porque ela se recusou a ter relações sexuais completas sem casamento. Ela, que eu saiba, nunca disse nada sobre o assunto mas a sua nomeação para professora efectiva, sem passar por professora agregada logo após o matrimónio, dão-me uma ideia plausível. A nomeação para aquele bairro, por ser social, era de competência do Ministro, fora de qualquer concurso, por proposta conjunta do Presidente da Câmara de Lisboa e do Pároco da Freguesia. Estes últimos exigiam a nomeação de um casal, para desenvolverem, naquele bairro, um projecto de desenvolvimento comunitário, semelhante a outros que naquela época se estavam a realizar no sul da Itália com algum êxito. Estávamos em 1963 e a palavra comunitário (era demasiado próxima de comunismo) estava proscrita do nosso vocabulário, éramos obrigados a falar em desenvolvimento mútuo ou coisa parecida.
Mas eram tão antagónicos em tudo estes dois personagens, que não é compreensível como se encontraram.
Que tenham sentido desejo um pelo outro é provável, dada a imprevisibilidade do desejo, os longos labirintos intrincados por onde se move o apetite sexual. Mas paixão?
A união destes dois sempre me deixou perplexo como a canção do antigamente, será de Tomaz de Alcaide? Já me não lembra:

«Eu não sou quem tu procuras,
Tu não és quem eu desejo
Mas para quê tantas loucuras
Se tudo acaba num beijo.
Duas vidas, dois destinos,
Caminhando lado a lado,
Unidas as nossas vidas vão
Atrás de uma ilusão,
Caminho errado.»

Dizem as más línguas que, durante os primeiros anos de casados, interrompiam uma discussão para terem sexo e depois do “repouso dos guerreiros”, continuavam a altercação. Enquanto namoraram, e andaram nisso mais de dois anos, zangavam-se todas as Terças ou Quintas-feiras e faziam as pazes Sábado à noite. Casal divertidíssimo!

sábado, 19 de dezembro de 2009

Ventre penugento como um pêssego


Serra da Gardunha, nascente da Ribeira de Ocreza.

Torrente límpida, pequenas lagoas de água transparente, refulgindo ao Sol na sua rota para poente.

Jangita, onde andarás tu, ainda tens certamente, ainda, um belo ventre, não já tão liso, nem tão coberto de beijos como então!

Penugento como um pêssego...

Jangita, música suave,

tão longínqua,

tão pura!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

São uns tristes

Os homens têm a atávica mania de que precisamos deles para gozar sexualmente. Ora nem eu, nem quase nenhuma das mulheres que conheço precisa de homem, excepto para procriar. (Com as biotecnologias que aceleradamente marcham ao nosso encontro, brevemente nem para isso!)
O prazer, para nós, consegue-se, até, pensando nele!

domingo, 13 de dezembro de 2009

A "legítima" como cão de caça

Naquele tempo, a Clarisse era a jovem e belíssima funcionária dos correios em S Vicente da Beira. Era um tormento para a Zulmira quando ela aparecia, e fazia-o frequentemente, para jogar à noite junto à Ponte de Oriana.

Jogavam-se aqueles jogos idiotas de antigamente: às prendas, às escondidas (toda a gente sabe como estes jogos invalidavam eficazmente todos os estigmas sociais que pesavam sobre as relações entre sexos na época). Lembro-me perfeitamente do escândalo que a Zulmira fez quando saiu como prenda à Clarisse beijar o Cristóvão que pouco antes também tivera, por exigência do jogo, de beijar a Clarisse. Não deixou, que já eram muitos beijos...

Saiu a sorte grande ao rapaz que assim via facilitada a sua abordagem à recém chegada à terra. Poucos dias depois já era possível esgueirarem-se os dois, um de cada vez e à sucapa, para os lados do Casal da Fraga, ou para a Srª da Orada...

Bem, o que eles iam fazer é lá com eles...

Acho excelente técnica a de usar a legítima como cão de caça nestas facadinhas matrimoniais.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Um achado arqueológico

Ao fundo do adro da capela da Sª da Orada havia um troço de calçada romana em razoável estado de conservação que seguia até à Portela e depois descia até ao Fundão. Era a estrada velha que alguns mais idosos diziam ter percorrido na juventude quando precisavam de se deslocar a qualquer feira importante naquela vila. A calçada estendia-se por cerca de três quilómetros, atravessava uma casita modesta no Rabaçal, com alguns terraços seguros por pedras soltas de xisto e granito, pequenas leiras de terra onde havia vestígios de cultura de cereais, talvez centeio, hortas e árvores de fruto.

Uma vez subi lá acima com o marido da Maria do Céu, a Teresa, a sobrinha Lalá e ela própria, a Maria do Céu. Por altura do Rabaçal teve uma birra não quis subir mais. Ficou ali sentada à sombra à nossa espera. Nós subimos mais um pouco e facilmente me apercebi de que esta Teresa andava muito meiguinha com o marido da Céu e fiz o possível por me afastar com a Lalá, alegando outras pesquisas, para os deixar o mais à vontade possível.

Foi nessa altura que encontrei uma grande pedra lavrada com sinais e gravuras não identificáveis, cuja existência já me havia sido referida por um professor de Historia, também a férias em S. Vicente. Mas que ele próprio não fora ou não quisera dar a localização exacta.

Tenho ideia que um dos sinais, o colocado mais ao alto e à esquerda, parecia uma cruz céltica incompleta (assemelhava-se à suástica nazi, mas de braços curvos). Os outros sinais eram arabescos sem forma definida.

Nunca mais lá consegui voltar. Fiz um desenho aproximado do que vi gravado na pedra enquanto a miúda brincava com o areão e as ervas secas. O desenho desapareceu há muito e já não sou capaz de o reconstituir de cabeça. Quanto à Teresa apareceu depois muito afogueada, queixando-se do calor e todos os quatro descemos ao encontro da Céu, que se abraçou muito à Teresa e descemos para a capela, persistindo as duas mulheres em caminharem sempre abraçadas pela cintura...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Não são conhecidos os motivos

Não são conhecidos os motivos que terão levado a menina Zulmira, já adolescentezinha, a transferir-se de Guimarães no colégio das freiras do Imaculado Coração de Maria, para o Colégio das Doroteias, na Covilhã. Em Guimarães era interna e teve as suas primeiras experiências sexuais com colegas e noviças. Mais tarde contarei como se envolveu com uma das madres.
Foi nesta última cidade que, já como externa, fez o exame do 5.º ano do liceu, antes de rumar a Lisboa a fazer as provas de admissão ao Magistério Primário.
Porque se terá dirigido à capital para começar a trabalhar?
Foi sempre boa aluna, concluiu o Exame de Estado com 16 valores. Estava em condições de fazer uma carreira brilhante.
Foi viver em casa de familiares já há muitos anos residentes em Lisboa.
Há três anos que havia guerra no chamado Ultramar.
Não posso saber se este facto terá alguma relevância nesta história!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Entremês

Entrei na cidade entre a tarde e a noite... cidade escura, podia ser Porto ou ..., não me apercebi, mas chovia, chovia muito e havia rios, correndo lado a lado com os caminhos, cuja água barrenta quase se podia tocar.
Algures, parei e olhei o rio à minha direita. A chuva parara, o rio deixara de correr.
Um pastor, à frente do seu rebanho, no leito seco do rio, trepa uma parede a pino sobre a ausência de água, mexe em qualquer coisa, podia ser um buraco na rocha escarpada, e desdobra uma escada de corda até ao fundo e sabe-se não sei porquê, que tem um minuto para pastor, cão e rebanho subirem e pôrem-se a salvo da água que voltará a correr. Penosamente homem, cão e rêzes sobem, o tempo corre e o coração de quem assiste e espera dispara.
Não sei se conseguiram...
Como por artes mágicas ando agora às voltas pelos corredores e salas que rodeiam o altar-mor da Igreja do Campo Grande. No átrio das salas mortuárias, num suporte de esquife vazio e coberto de panos de cores suaves, azuis, brancos, rosas acetinados... Um caixão vazio com o cetim da guarnição muito branco e brilhante e,à volta dele, um magote de estudantes de capa e batina e muitas insígnias e fitas. Dois ou três pegavam numa faixa que eu não via mas que sei que dizia: Adeus, Querido Tiago... Muitas vozes diziam: Tirem esses dizeres daí! O Tiago não merece essa afronta! Isto é uma piroseira! Tinha-me cruzado com um pequeno grupo que transportava um cadáver envolto em trapos, no corredor.
Devia haver um assalto à Igreja (muitos cavalos pintados creio que de verde) e do qual eu e o Zé Alberto teríamos de ser cúmplices sob pena de represálias que incluíam ameaças de morte do grupo que perpetrava o assalto.
A porta, que habitualmente estava fechada, nesse dia estava aberta e não havia tempo de avisarmos os assaltantes. Um padre interpelou-nos, que desejávamos? Respondemos que apenas matar saudades mas a conversa não teve continuidade, como que por encanto, o padre desapareceu e nós estávamos na rua a atravessar o magote de estudantes...
O lugar estava cheio de soldados, já não era o Campo Grande. Seria o centro de uma vila ou cidade com cafés onde eu queria tomar uma bica. O tempo era o actual mas estava comigo o meu falecido pai que me perguntava por um mictório público para aliviar a bexiga. Ultrapassando os soldados que abriram alas para nós passarmos, fomos mijar, depois ele desapareceu e encontrei-me só a percorrer as esplanadas à procura de um lugar convidativo para tomar a minha bica...
Que tem isto a ver com a Zulmira? Tem! É nestes sonhos, atribulados e demenciais, que a sua influência na minha vida se revela. Como eu amei a Zulmira!

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Minha Imberbezinha!

A menina Zulmira estava um tudo nada apoquentada porque não conseguia que a sua púbis ganhasse de novo a pelagem que a distinguia antes de parir o seu primeiro filho. Tinha imensa comichão, fazia um sério esforço para não coçar o sítio em público mas, em casa, não era preciso resistir...

Além disso, achava ridículo que o marido a chamasse de minha imberbezinha e a quisesse beijar onde ela não queria: Beijos naquele local só os da Maria do Céu.

O bebé perturbava-lhe o repouso nocturno e, embora o marido se levantasse também de noite para acalentar ou mudar o bebé, raramente as suas noites eram tranquilas, sempre tentando aperceber-se de qualquer rumor vindo do berço da criança.

O seu interesse pelo Cristóvão, o marido, diminuia, diminuia sempre à medida que os seus cuidados e afectos pelo menino cresciam. Era como se ele já tivesse cumprido a sua missão fecundando-a, agora, era absolutamente dispensável...

A sua líbido ia-se recompondo e, mesmo lentamente,os pelos da sua púbis também. Tinha desejos mas prescindia do homem, tratava de si própria ou, um simples amplexo ligeiramente mais longo da amiga de sempre, transportava-a a dimensões de gozo que só ela conhecia.

Cada vez é mais difícil ser hetero

Não tenho dúvidas de que a Maria do Céu se deitou com a Zulmira. Uma? Muitas vezes? Não interessa.
É facto que houve uma altura em que estas coisas fluíam naturalmente e ninguém fazia perguntas a ninguém nem era desvalorizado nos seus relacionamentos, nem no seu emprego pelo que fazia, ou deixava de fazer, com o seu sexo.
Hoje, mesmo com as manifestações "gay" ou por causa disso, é mais difícil ter uma vida sexual rica, se for heterossexual, sem se ser criticado socialmente.
Está na moda ser-se vitoriano por fora e libertino por dentro, mas mesmo muito por dentro.
O puritanismo, agora importado from USA, começou aí pelo fim dos anos oitenta e não se vê maneira de acabar.
É mais fácil ser paneleiro que ter duas amantes sem ser socialmente repudiado!

domingo, 6 de dezembro de 2009

Maria Teresa ou Teresa de Jesus?

Já aqui falei na Teresa. Mas hoje volto a falar!
A Maria do Céu teve duas amantes com este nome, uma era Teresa e só; outra era mais refinada, chamava-se Teresa de Jesus.
Para os costumes religiosos da Céu, esta última, tinha nome de santa e era capaz de lhe causar menos problemas de consciência mas, a que a fazia babar-se mais, era a outra a que, tal como ela, também era professora. Bastava-lhe estar sentada numa reunião ao lado dela para sentir os seus fluidos escorrerem-lhe pelas coxas depois de lhe empaparem as calcinhas. Dançavam também muito nas festas escolares. Chegou a contar ao marido, não sei se isto a excitava, que dançar com a Teresa era um orgasmo continuo enquanto o baile durava.
Muitas vezes o marido notou que a sua almofada de dormir cheirava ao característico perfume da Teresa um perfume não muito caro mas bastante agradável o "Bien Être".
Foi assim que ele teve a certeza que a mulher se deitava com a Teresa e esta própria quis começar a sair com ele para, nas suas palavras, o compensar pelo prazer que lhe roubava através da Maria do Céu. Claro que ele, como bom mafioso, aproveitou e estava-se borrifando para o bissexualismo da mulher. Desde que ele gozasse os outros podiam também gozar.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Uma casa na Beira-Baixa

As divisões quase todas de tabique e os tectos de telha vã.

Gostava dos labirintos e varandas por onde se passava de uma casa a outra, da sequência de alcovas, cozinhas e salas, cubículos e salões.

Altas horas, trepar, varanda a varanda, a um segundo ou terceiro piso e encontrar o secreto corpo de mulher que nega até à morte o gosto pelo sexo mas que na soledade da noite, na ausência absoluta de testemunhas, assim se entrega tão despudoradamente. Os nãos que valem sins apaixonados e lânguidos tornam as mulheres absolutamente incompreensíveis. Mas que interesse pode isso ter?

Diminui alguma coisa, o prazer que nos proporcionam, o mistério dos seus pensamentos?

Fiquem-se com eles e ofereçam-nos a loucura dos vossos corpos frementes de desejo