domingo, 29 de dezembro de 2013

Estilhaço n.º 0051 - Um machão do caraças. (1)

Esta foi, parece-me, a primeira zanga séria deste casamento. Muitas outras haviam já ocorrido durante o namoro, o noivado (corria até uma lenda que afirmava, sem quaisquer dúvidas, que se zangavam à Quinta-feira, faziam as pazes ao Sábado, passavam um Domingo muito meigo e recomeçavam na Segunda-feira uma renhida troco de impropérios que durava até à próxima Quinta-feira, onde tudo recomeçava, sempre da mesma maneira.) e mesmo já dentro do matrimónio destes dois. Mas a violência iria instalar-se agora e ficavam irremediavelmente comprometidos todos os liames deste consórcio. Ainda estavam no primeiro ano do casamento mas começava, sem dúvida, a desenhar-se uma incompatibilidade que deveria ter evitado esta união permanente.
O Cristóvão tinha tido uma educação machista e, embora ao longo da sua vida tivesse evoluído para uma atitude mais sensata perante a vida, até ao fim do seu casamento com a Zulmira, nunca abandonou esta filosofia. Esta a razão que o fez testar a sua autoridade nessa noite. Proibiu a mulher de ir ao serão a casa da Lina mas ela não acatou a ordem, nem mesmo quando ele armado em patrão afirmou peremptório:  - se sais não voltas a entrar aquela porta. Ela saiu mesmo. Não tinha chave da porta da entrada mas apenas uma chave da porta das traseiras. Ele fechou-as todas e, para maior segurança, deixou a chave na fechadura, impedindo-a que pudesse ser aberta pelo exterior e foi deitar-se...

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Estilhaço n.º 0050 - Um jantar de Outono

Seria já noite num dia de Outono. Não chovia nem estava muito frio e a Lina e o Duarte tinham convidado o casal Robalo para irem lá casa passar o serão. Em Setembro e Outubro aconteceram sempre muitas coisas e Zulmira era uma avezinha tonta, mas Cristóvão era um papagaio bronco e medroso, cheio de arrebiques e parlapatices vocabulares, gratuitas e voluntariosas. Não queria sair de casa. Mas a Zulmira queria à viva força e, como parecia estar de desejos, o Duarte trouxe-lhe, de casa deles, um prato com bacalhau, batatas, couves e ovo que ela muito apreciou. O Cristóvão aceitou por delicadeza e o Duarte voltou a  convidá-os para irem lá a casa mais tarde para conversarem. O tanso ficou mordido de ciúmes.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Estilhaço n.º 0049 - Será uma vida um amontoado de ESTILHAÇOS?

Que pieguice! Não consigo agarrar em cada texto e dar-lhe a forma desejada como se fosse a continuação dos estilhaços anteriores e publicados.Acontecimentos do presente impedem-me de encarnar as memórias do Cristóvão, da Zulmira, da Cecília, do Zé, da Maria do Céu ou de qualquer outro.
Também se fosse um texto corrido não tinha lógica chamar-lhe estilhaços. Deixemos então continuar como está.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Estilhaço n.º 0048 - TORPOR

Quantas vezes a menina Zulmira, já professora, faltou à escola para ficar em casa, na cama, sem fazer nada?Deleitava-se naquele doce-fazer-nada mas as próprias cenas melosas imaginadas não a levavam a fazer mais que mergulhar num torpor, doce, quente e terno.
Quando teria começado a ser assim: um monstro de sensualidade amorfa.
Cristalizaria alguma vez?
Como seria esse cristal sensorial, sensual, sexual. De que cor seria a sua transparência?