Três horas da madrugada… Às vezes acordo tão assustado que me parece fazer parte dos sonhos em que desperto.
Sonho que sou mau, grosseiro, cruel, em guerra permanente com tudo e com todos e distingo mal o que é sonho, o que é realidade e sofro. Sofro porque faço sofrer aqueles que muito amo, ou julgo que amo, e a mim próprio. Neste sonho, agitei-me e corri muito, cansei-me; gritei, gritei, gritei numa casa vazia, onde eu sabia que era ouvido, que todos os meus impropérios altissonantes faziam alguém, principalmente a minha actual mulher e a minha filha mais velha que tenho com ela, sofrer dolorosamente. Lembro-me de lhe berrar «traidora» porque ao criticar-me a brutalidade que eu estava a usar contra uns homens ou uns rapazes que se opunham a reparar um automóvel meu, como eu queria, estava a tomar o partido deles e a impossibilitar-me de impor a minha vontade, excessivamente violenta, sentida como faltosa depois de acordado mas absolutamente justa enquanto sonhava.
A minha filha chorava, chorava muito mas não era o seu chorar que me feria, o que me doía era o sofrimento indizível que eu sentia lhe ter feito experimentar com os meus gritos, as minhas palavras, os nomes horríveis que lhe dirigi.
Que relação poderá isto ter com a narração que venho fazendo neste blogue?
Este tac-tac-tac-tac-tac-tac do relógio da sala quase me endoidece! Porque o oiço tão nítido, eu que oiço mal e não costumo sequer ouvi-lo?