quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Estilhaço n.º 0052 - No Casal da Serra

Em Setembro, novamente, a Serra estava linda, o Outono tinha-a coberto de cor, muitas tonalidades de castanhos, de verdes, de amarelos, de vermelhos; a temperatura estava amena e o Sol aquecia tudo o que à sua luz se espreguiçasse. Até a Zulmira estava linda aos olhos do Cristóvão que subiu com ela, pelo fim daquela tarde, até próximo do Casal da Serra. Havia um souto de castanheiros do lado esquerdo do caminho e, do direito, por onde a encosta progressivamente se afundava, havia grandes lajes de granito, emolduradas quase todas  por pinheiros bravos desgrenhados e torcidos.
Encostaram o pequeno automóvel num desvio meio escondido por um grande penedo e saíram. O ar estava tépido, não havia uma aragem, o sol já ia baixo, alongando e distorcendo as sombras mas o anoitecer não estava para já, a luz da tarde dava tons rosados às cores mais claras, o silêncio envolvia-os. Do sul chegavam-lhes longínquos e espaçados toques de chocalhos do gado em pastoreio, regressando lentos e docemente aos apriscos. Cheirava bem, odores de mato e ervas bravas e folhas de árvores que eles não sabiam, uma harmonia perfumada sem agudos dissonantes nem graves perturbadores. Convidava. Sentaram-se numa enorme rocha, como um terraço, uma esplanada de granito. Estava quente a pedra. Todo o dia ao sol, guardava ainda o seu calor para a noite que viria. Zulmira e Cristóvão entraram num quase estádio de beatitude. Beijaram-se longamente os lábios, sem pressas, passando-se as mãos suavemente pela totalidade dos seus corpos, mutuamente, e a totalidade dos seus seres inebriava-se de desejo. Ficaram assim, muito, muito tempo, alternado beijos com afagos nos pescoços, nos peitos, nas costas, nas coxas, nas barrigas, na genitália. Estavam...