sexta-feira, 23 de julho de 2010

No Talefe Grande da Serra da Gardunha

Era um deslumbramento. Para qualquer lado que se olhasse a paisagem descia, descia sempre num declive caótico pejado de pedras e pedregulhos de granito, jacendo como cavalos e cavaleiros e armas e archeiros de um combate perdido, todos mortos e abandonados às rapaces da serra. O som era um silêncio vasto como a longínqua campina, com um fundo em surdina de uma aragem fresca que zunia quase imperceptível e os gritos agudos e espaçados dos milharós. Nem uma árvore até ao Castelo Velho, apenas ervas rasteiras tisnadas e giestas mirradas que a primavera já ia muito longe... junto aos caules encarquilhados, o chão estava coalhado de castanhos avermelhados das brácteas das flores secas e sementes como amontoados de excrementos dos coelhos selvagens. Cristóvão, o Zé e o Prata estiveram longo tempo em silêncio... comeram as conservas e o pão que levavam e à sombra de um enorme penhasco estenderam-se a descansar. Cristóvão olhava o céu azul, salpicado aqui e além de uma núvem ténue. O Prata ressonava – volta e meia troava como um trombone da banda de S. Vicente. Voltaram ao pôr-do-sol... Casal da Serra... Caldeira... Era lusco-fusco quando passaram à capela de S. Sebastião, estavam praticamente em casa.