domingo, 29 de dezembro de 2013

Estilhaço n.º 0051 - Um machão do caraças. (1)

Esta foi, parece-me, a primeira zanga séria deste casamento. Muitas outras haviam já ocorrido durante o namoro, o noivado (corria até uma lenda que afirmava, sem quaisquer dúvidas, que se zangavam à Quinta-feira, faziam as pazes ao Sábado, passavam um Domingo muito meigo e recomeçavam na Segunda-feira uma renhida troco de impropérios que durava até à próxima Quinta-feira, onde tudo recomeçava, sempre da mesma maneira.) e mesmo já dentro do matrimónio destes dois. Mas a violência iria instalar-se agora e ficavam irremediavelmente comprometidos todos os liames deste consórcio. Ainda estavam no primeiro ano do casamento mas começava, sem dúvida, a desenhar-se uma incompatibilidade que deveria ter evitado esta união permanente.
O Cristóvão tinha tido uma educação machista e, embora ao longo da sua vida tivesse evoluído para uma atitude mais sensata perante a vida, até ao fim do seu casamento com a Zulmira, nunca abandonou esta filosofia. Esta a razão que o fez testar a sua autoridade nessa noite. Proibiu a mulher de ir ao serão a casa da Lina mas ela não acatou a ordem, nem mesmo quando ele armado em patrão afirmou peremptório:  - se sais não voltas a entrar aquela porta. Ela saiu mesmo. Não tinha chave da porta da entrada mas apenas uma chave da porta das traseiras. Ele fechou-as todas e, para maior segurança, deixou a chave na fechadura, impedindo-a que pudesse ser aberta pelo exterior e foi deitar-se...

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