quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Entremês

Entrei na cidade entre a tarde e a noite... cidade escura, podia ser Porto ou ..., não me apercebi, mas chovia, chovia muito e havia rios, correndo lado a lado com os caminhos, cuja água barrenta quase se podia tocar.
Algures, parei e olhei o rio à minha direita. A chuva parara, o rio deixara de correr.
Um pastor, à frente do seu rebanho, no leito seco do rio, trepa uma parede a pino sobre a ausência de água, mexe em qualquer coisa, podia ser um buraco na rocha escarpada, e desdobra uma escada de corda até ao fundo e sabe-se não sei porquê, que tem um minuto para pastor, cão e rebanho subirem e pôrem-se a salvo da água que voltará a correr. Penosamente homem, cão e rêzes sobem, o tempo corre e o coração de quem assiste e espera dispara.
Não sei se conseguiram...
Como por artes mágicas ando agora às voltas pelos corredores e salas que rodeiam o altar-mor da Igreja do Campo Grande. No átrio das salas mortuárias, num suporte de esquife vazio e coberto de panos de cores suaves, azuis, brancos, rosas acetinados... Um caixão vazio com o cetim da guarnição muito branco e brilhante e,à volta dele, um magote de estudantes de capa e batina e muitas insígnias e fitas. Dois ou três pegavam numa faixa que eu não via mas que sei que dizia: Adeus, Querido Tiago... Muitas vozes diziam: Tirem esses dizeres daí! O Tiago não merece essa afronta! Isto é uma piroseira! Tinha-me cruzado com um pequeno grupo que transportava um cadáver envolto em trapos, no corredor.
Devia haver um assalto à Igreja (muitos cavalos pintados creio que de verde) e do qual eu e o Zé Alberto teríamos de ser cúmplices sob pena de represálias que incluíam ameaças de morte do grupo que perpetrava o assalto.
A porta, que habitualmente estava fechada, nesse dia estava aberta e não havia tempo de avisarmos os assaltantes. Um padre interpelou-nos, que desejávamos? Respondemos que apenas matar saudades mas a conversa não teve continuidade, como que por encanto, o padre desapareceu e nós estávamos na rua a atravessar o magote de estudantes...
O lugar estava cheio de soldados, já não era o Campo Grande. Seria o centro de uma vila ou cidade com cafés onde eu queria tomar uma bica. O tempo era o actual mas estava comigo o meu falecido pai que me perguntava por um mictório público para aliviar a bexiga. Ultrapassando os soldados que abriram alas para nós passarmos, fomos mijar, depois ele desapareceu e encontrei-me só a percorrer as esplanadas à procura de um lugar convidativo para tomar a minha bica...
Que tem isto a ver com a Zulmira? Tem! É nestes sonhos, atribulados e demenciais, que a sua influência na minha vida se revela. Como eu amei a Zulmira!

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