quinta-feira, 13 de novembro de 2008

EQUÍVOCOS

Nunca ninguém entendeu a verdadeira razão porque o Cristóvão e a Zulmira se haviam casado: tinham tão pouco em comum! E nunca conseguiram dizer um ao outro nada de relevante sobre as respectivas personalidades: sempre foram um equívoco um para o outro. Hoje, ainda continuo convencido de que, se têm ido para a cama antes do casamento, nunca se teriam embrenhado numa relação que a nenhum satisfazia.

Ao princípio ainda parecia que a única coisa que os ligava era o sexo mas, mesmo aí, as coisas foram-se rapidamente deteriorando. Havia muito sexo mas, bem lá no fundo do ser de cada um, nenhum ficava saciado ou razoavelmente feliz. Não conseguiam comunicar – afirmavam grande desejo um pelo outro, procuravam-se assiduamente mas...

As ejaculações do Cristóvão eram abundantes e davam-lhe prazer intenso mas deixavam sempre um rasto de desilusão. A Zulmira gozava, dizia que gozava muito, queria-o sempre lá dentro mas em nove anos de vida em comum afirmava apenas haver tido dois orgasmos com o marido e ficara-lhe a sensação de que poderia ter ido muito mais longe, como realmente ousou ir com a Teresa, com a Cecília e, mais tarde, com o padre Martins.

Pelo caminho ficaram outros desejos, outros afectos, outros arrepios de prazer clandestinos.


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